Primeiros passos para a música popular
Posted on 29. jun, 2012 by liliana in Críticas, Livros
Dentre todos os sonhos que uma garota de sua idade poderia ter, Clara sonhou que era um jazzman. Mas, afinal, o que é um jazzman? Essa foi apenas a primeira das muitas dúvidas que surgiram na vida da adolescente, que a partir de então, passou a procurar todo e qualquer tipo de informação sobre as origens da música popular. Além de estranheza, o inusitado sonho despertou uma curiosidade inexplicável em Clara. São as respostas dessa busca que acompanhamos ao longo do livro Clara na Música Popular, de Liliana Bollos.
Publicado em 2011 pela Editora Som, o volume foi realizado com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, através do Programa de Ação Cultural (ProAC). Talvez por esse motivo seja possível identificar um forte caráter didático na obra. Em suas 80 páginas, o livro apresenta artistas como Ernesto Nazareth, Louis Armstrong, Tom Jobim e João Gilberto por meio de uma linguagem simples e direta.
O texto informal e o fato de uma jovem protagonizar a história podem revelar um objetivo fundamental do livro: aproximar as novas gerações ao conhecimento dos primeiros passos da música popular, dois universos que parecem tão distantes ultimamente. Mas embora seja voltado para os mais novos, o volume também é uma boa opção para qualquer pessoa que procure informações básicas sobre o assunto.
O enredo é centrado em Clara, que narra em primeira pessoa suas descobertas sobre música, como em um diário. Em alguns momentos, quando quer explicar algo para o leitor, o discurso da personagem assume um tom mais pragmático e um pouco mais formal, o que em parte quebra a credibilidade da narrativa, mas que não chega a prejudicar a obra no geral. Através desses trechos, ritmos como o ragtime, o choro e a bossa nova são contextualizados e descomplicados.
Clara é uma adolescente de apenas 17 anos e, ao mesmo tempo em que pesquisa sobre os temas ligados à música popular, precisa se preparar para o vestibular. Nesse ponto, é possível identificar uma leve crítica no livro: como o conhecimento sobre arte é posto em segundo plano hoje em dia. Dividida entre o prazer da investigação sobre a história da música e a obrigação das apostilas do colégio, Clara precisa, muitas vezes, realizar a primeira atividade escondido da mãe, para quem tudo aquilo pode ser perda de tempo.
Além do vestibular, a obra situa a jovem em outras situações típicas de sua idade, como a confusão de sentimentos em relação a Alberto, irmão de sua amiga Andréia, e de quem toma um livro sobre jazz emprestado. Apesar de todas essas características, quando vista por inteiro, a personagem não parece muito real. Em um mundo onde os jovens estão cada vez mais dispersos e imersos no ambiente virtual, é difícil acreditar que existam adolescentes tão determinados quanto Clara.
Outra parte que merecia mais atenção é o conteúdo sobre os movimentos mais recentes da música popular. Os capítulos finais – entre os quais o tema da tropicália, por exemplo, está inserido – se desenrolam de maneira um pouco apressada.
É evidente, entretanto, que a intenção de Clara na Música Popular não é o de traçar uma análise histórica profunda, mas sim o de instigar o leitor a procurar outras fontes e novas informações. Nesse sentido, uma lista de referências bibliográficas está disponível no final do volume. Assim como afirma o último capítulo da obra, “o fim será o começo”, não só para Clara, como para qualquer outro leitor que teve sua curiosidade aguçada ao terminar o livro.
Lucas Rodrigues
Oficina Crítica e Música Vila Mariana, 30/04/2012